Com show ‘cabeça’ e sem concessões, David Byrne faz apresentação impecável em BH
Via uai
David Byrne fez sua primeira apresentação em Belo Horizonte nesta quinta-feira
(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A.Press)
Por Mariana Peixoto
"Bem, como eu cheguei aqui?", pergunta David Byrne sozinho no palco no início de Once in a lifetime. Bem, a resposta acompanha mais de quatro décadas de uma carreira que nunca entrou na zona de conforto. Em sua primeira apresentação em Belo Horizonte, na noite desta quinta-feira (29) no KM de Vantagens Hall, Byrne encerrou sua turnê brasileira da melhor maneira possível: mostrando que a música pop não pode se acomodar.
Um show cabeçudo para os padrões, com poucos hits e um repertório que passeia por diferentes épocas, funcionou como há muito não se vê na cidade - se levarmos em consideração as atrações internacionais com shows requentados que volta e meia vêm a BH.
(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A.Press)
Aos 65 anos, o ex-líder dos Talking Heads veio ao Brasil bem no início da turnê de American Utopia, seu primeiro álbum solo em 14 anos - saiu em 9 de março. A plateia foi pequena para a importância do show - algo que já ocorreu no mesmo ginásio, com Elvis Costello e Massive Attack.
Mesmo tendo realizado menos de uma dúzia das 90 apresentações previstas da nova turnê, a dinâmica no palco é impressionante. Isto porque Byrne está acompanhado de 11 instrumentistas - seis deles percussionistas (que se revezam em instrumentos os mais variados possíveis, de berimbau a zabumba).
É impressionante a interação em cena, com todos os músicos tocando de pé e se movimentando. Um show com 12 músicos em que não se vê um só fio no palco. - wireless seria a melhor definição. Cada música foi uma história diferente. Sem medo de soar difícil, Byrne tocou 21 canções - oito delas dos Talking Heads. E de sua ex-banda só houve um grande hit, Burning down the house.
De sua história mais recente, Byrne tocou I should watch TV, do álbum que lançou com a cantora St. Vincent. E também Toe Jam, da improvável parceria com Fatboy Slim para um ópera sobre Imelda Marcos. Neste momento, Davi Vieira, um dos três percussionistas brasileiros, pegou o microfone e, de improviso, mandou alguns versos. Inteligentemente incluiu até um "Oh! Minas Gerais".
A exemplo do que ocorreu na noite de quarta-feira, no Rio, Byrne encerrou o show de 1h40 com uma versão para Hell you Talmbout, da cantora Janelle Monáe. Na versão original, ela canta nomes de negros assassinados nos EUA por crimes raciais. Aqui, Byrne adaptou citando vítimas brasileiras, como a vereadora Marielle Franco e o ajudante de pedreiro Amarildo de Souza.
Foi um final catártico para o melhor dos shows que um artista pode apresentar sem fazer concessões ao fácil que impera na música atual.
Veja o repertório
Here
Lazy
I Zimbra (Talking Heads)
Slippery people (Talking Heads)
Dog's mind
Everybody's coming to my house
This must be the place (Talking Heads)
Once in a lifetime (Talking Heads)
Doing the right thing
Toe Jam
Born under punches (Talking Heads)
I dance like this
Bullet
Every day is a miracle
Like humans do
Blind (Talking Heads)
Burning down the house (Talking Heads)
Dancing together
The great curve (Talking Heads)
Hell you Talmbout