David Byrne volta a Porto Alegre para relembrar sucessos dos Talking Heads

Via GauchaZH

Dia Dipasupil / AFP

Por Gustavo Foster

Por incrível que pareça, David Byrne está otimista. Sua resposta a um mundo – segundo sua própria interpretação – mais dividido, menos racional, mais radical, e menos inteligente é a esperança. Talvez por isso, mesmo em cima da hora e com compromissos atrasados, ele atenda o telefone e responde às perguntas com voz de quem parece estar sorrindo.

– É comum pensar que a arte é melhor em momentos de crise, mas não consigo ter certeza disso. Se for verdade que o artista tem que ser atormentado, sofrer, viver em um ambiente de agitação constante, eu pensaria “bem, isso parece uma vida um pouco horrível”. Eu tentaria olhar para outros tipos de arte – diz o ex-líder da banda Talking Heads, ativista pelo transporte alternativo, escritor, membro do Rock ‘N Roll Hall of Fame e vencedor de Oscar, Grammy e Globo de Ouro, já dando uma pista sobre as reflexões de American Utopia, seu primeiro disco solo após 14 anos e base da turnê que chega a Porto Alegre nesta quinta-feira (22).

Não que este terceiro show do artista na Capital (passou pela cidade em 1990 e 2004), marcado para as 21h30min, no Pepsi On Stage, seja uma celebração cega ao lado bom da vida. American Utopia faz parte de um projeto maior de Byrne, chamado Reasons to Be Cheerful (em tradução livre, “razões para comemorar”), plataforma de textos, palestras e ações que, no fim das contas, pretendem mostrar que as coisas não estão tão horríveis como podem parecer.

Ou seja, o disco é mais do que uma resposta à eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, onde Byrne vive, ou à crise representada pelo Brexit na Europa, continente em que o escocês nasceu – a bem da verdade, foi produzido antes de todos esses acontecimentos.

– Trump é um sintoma, muito mais do que a causa. São reflexos de divisões que estão acontecendo na nossa sociedade. O mesmo está acontecendo na Europa, no Brasil, não é só nos Estados Unidos. Mas só aqui há o palhaço laranja, então isso chama a atenção – brinca.

Até por isso, Byrne explica que a ideia do disco partiu muito mais da sonoridade do que das letras. Foi ouvindo a batidas criadas por Brian Eno (ex-membro do Roxy Music, produtor musical e colaborador recorrente de Byrne) que surgiu a motivação para gravar novamente um disco de sua carreira solo.

– Eu não estava muito focado. Ia de uma coisa para a outra toda hora. Fiz um álbum com St. Vincent (cantora americana), outro com Brian Eno, compus peças musicais para teatro, não estava planejando fazer nada. Quando vi as batidas de Eno, fui provocado a escrever. A produção posterior foi demorada, mas as letras vieram muito rápido.

É claro que, durante uma hora 40 minutos de apresentação, Byrne encontra espaço para contemplar sua carreira à frente dos Talking Heads, banda que fundou e liderou entre 1975 e 1991. Devem estar no setlist sucessos como Burning Down the House, This Must Be the Place (Naive Melody)Slippery People. Psycho Killer não vem sendo tocada pelo artista nos shows recentes.

– Escolho músicas do Talking Heads que são populares, que as pessoas esperam ouvir, mas também prezo por aquelas que se encaixam na ideia do que estamos fazendo. Certamente, há algumas que são populares, mas não estão inseridas no contexto do show. Acho que os Talking Heads têm bom material espalhado pelos discos, e tentamos representar isso.

Se Byrne tem medo de ver sua visão otimista jogada no caldeirão de extremismo e julgamentos das redes sociais?

– Decidi alguns anos atrás que eu não tenho tempo para as redes sociais. Posto no meu blog, escrevo algumas coisas, tenho meus livros, me dedico à minha bicicleta. Já é o suficiente.

DAVID BYRNE
Quinta-feira (22), às 21h30min.
Pepsi On Stage (Av. Severo Dulius, 1.995)
Shows de abertura: Antonio Villeroy, às 19h30min, e Karina Zevian, às 20h15min.
Ingressos: R$ 200 (pista), R$ 300 (mezanino) e R$ 450 (premium), à venda sem taxa na FNAC do Barra Shopping Sul (Av. Diário de Notícias, 300) ou pelo site ticketsforfun.com.br, com taxa.

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