Portugal é “alternativa bem-sucedida” à austeridade: palavra de David Byrne

Via Diário de Notícias

José Mota/Arquivo

Miguel Marujo

Euma voz inesperada aquela que veio louvar a resposta política encontrada em Portugal para responder aos anos da austeridade: o cantor, músico e compositor americano de origem escocesa, David Byrne, antigo vocalista dos Talking Heads, escreveu um texto em que apresenta o exemplo português como uma resposta contrária aos que anunciaram a austeridade como a "única alternativa" à crise financeira provocada pela banca em 2008.

Num site onde alimenta opiniões políticas e partilha ideias nestes tempos em que parece que o mundo caminha para o Inferno, como o próprio descreve, David Byrne organiza desde há um ano em Reasons To Be Cheerful ("Razões para estar contente", numa tradução livre e que pode ter outras declinações - como satisfeito, grato...) uma coleção de notícias que o lembram que "na verdade, há coisas boas a acontecer!".

Para o americano, a austeridade não foi a única resposta possível para a dívida que atingiu muitos países após a confusão económica global após 2008. "A resposta, se olharmos para Portugal e alguns outros lugares, é NÃO. Depois da confusão bancária e creditícia de 2008, a 'austeridade' foi muitas vezes elogiada por muitos políticos e economistas como a ÚNICA saída do buraco escavado pelos banqueiros. Os bens públicos eram frequentemente vendidos a empresas privadas para se ter dinheiro rápido", escreve Byrne na newsletter do seu site.

"A resposta, se olharmos para Portugal e alguns outros lugares, é NÃO"

Para o americano, "por outras palavras, o que nos deram a comer - que a austeridade era inevitável e necessária - era uma mentira. Houve e há outro caminho", escreveu. No artigo que disponibiliza, David traça o retrato do que se passou, com recurso a notícias da imprensa internacional, para depois explicar qual foi a resposta política do país e concluir que há razões para olhar para Portugal como uma "alternativa bem-sucedida".

Com a troika, recorda, "a saúde, as infraestruturas e a educação (entre muitas outras coisas) sofreram, e um número cada vez maior de pessoas ficou para trás". Acrescentando: "O resultado foi uma quantidade razoável de ressentimento, que se expressa politicamente nas divisões e no populismo que vemos crescendo em toda parte. Economicamente, essas políticas também não funcionaram muito bem."

A rematar o texto, Byrne socorre-se de uma citação do primeiro-ministro português, António Costa, em entrevista ao New York Times, em julho de 2018, para admitir que ainda há muito por fazer. "Nós não fomos do lado negro para o lado brilhante da lua. Ainda há muito a fazer. Mas quando começámos esse processo, muitas pessoas disseram que o que queríamos alcançar era impossível." E concluiu: "Nós mostrámos que existe uma alternativa."

David Byrne atuou no ano passado em Cascais, depois de ter apresentado um novo álbum de originais em nome próprio em 14 anos, American Utopia. A sua passagem por cá é recuperada. "Isto é tudo muito encorajador. Estive lá na minha digressão mundial e as coisas pareciam estar a explodir... Uma das coisas que notámos é que as pessoas se estão a mudar para Portugal. Espalhou-se o rumor de que é um bom sítio para viver. Especialmente entre brasileiros, cujo país está a atravessar uma crise. O clima é otimista, o que tem o efeito de estimular o investimento e a inovação."

No álbum, estes tempos de crise são dissecados pela pena brilhante de um dos nomes mais estimulantes da música pop atual. Em Every Day Is A Miracle. Byrne canta: "Every day is miracle/ Every day is an unpaid bill/ You've got to sing for your supper/ Love one another".

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