Show de David Byrne é uma obra-prima (e os curitibanos confirmam!)

Via Gazeta Do Povo

Foto: Vinicius Grosbelli/divulgação.

Por Sandro Moser

Difícil descrever sozinho o show de David Byrne ontem no Teatro Positivo. Clichês pós-show como “catártico” ou “apoteótico” desta vez não dão conta. O que se viu no Teatro Positivo, na segunda-feira (26), foi um concerto meticulosamente arquitetado de um artista maior no auge de sua sempre elegante criatividade. Uma pequena obra-prima em um ato. Algo para se lembrar.

Assim, para evitar um texto deslumbrado e autocrático que em nada faria jus ao show colaborativo e generoso que Byrne fez ao lado da banda numerosa, saí perguntando para gente que entende do riscado o que cada um achou do show.

Pra quem não foi, Byrne usou os todos os 13 metros de boca de cena e 9,4 metros de profundidade do palco. Uma elegante moldura de pano gris e iluminação espertíssima captaram os treze músicos da banda tocam, dançaram, evoluíram no palco ao som de hits e novidades do disco American Utopia.
Sim, há algo de carnavalesco neste show de Byrne como bem apontou o jornalista e escritor Alessandro Andreola.

“Ele armou um espetáculo em que subverte o típico show de rock: uma banda móvel, performática e intercambiável, que não para quieta um minuto. Nem parece que ali está um senhor de 65 anos. Se tudo isso já é raro, mais rara é chance de ver um show desse naipe, com um artista em pleno pico criativo, em Curitiba. E se eu falei em rock, pode esquecer. O que vimos ontem foi outra coisa, uma espécie de escola de samba futurista. É duro usar uma palavra tão batida quanto “catártico” para descrever um show, mas fazer o quê? Foi isso mesmo. Vida longa ao Grêmio Recreativo David Byrne”.

Foto: Vinicius Grosbelli/divulgação.

O produtor Odilon Merlin do alto de seus milhares de shows já vistos também destacou a atualidade do show de Byrne. “Em geral, Curitiba sofre como endereço de shows requentados, de artistas em fase de pré-aposentadoria; atrações fora de sua época ou mesmo retomadas duvidosas de carreiras até então encerradas. Quando a gente assiste um espetáculo contemporâneo e avant-garde como American Utopia dá uma enorme satisfação. Uma magistral amostra de atualidade que merecíamos mais vezes”.

Byrne já está nessa da música pop desde 1975. Como muitos no público, o músico Caio Marques foi ver de perto um artista cuja carreira acompanha há mais de 30 anos. Mas como os outros velhos fãs ele ficou feliz em não ver um show de um cara tocando velhos hits e sim um artista em “pleno movimento”. Para ele o show foi reconfortante e estranho. Por um lado era David Byrne dizendo coisas que só David Byrne diz. Por outro, uma espécie de provocação.

“Não era uma banda de rock, era um cenário, uma família, uma casa. Uma casa em que todo mundo ali estava convidado a entrar, e sentimos isso, na terceira música o teatro se levantou e pudemos chegar todos perto, dançar, e sim, ouvir o cara cantar algumas das cancões familiares, em arranjos muito próximos aos que estamos acostumados. Foi ao mesmo tempo intrigante e aconchegante, familiar e estranho. Como a música simples e complexa que ele sempre nos ofereceu”.

Foto: Vinicius Grosbelli/divulgação.

Na sexta canção (na verdade), o single do álbum novo, Everybody's Coming To My House o povo anarquizou a história de lugares marcados do teatro e se mandou para o gargarejo do Teatro pra dançar com Byrne e a banda até o final. A produtora de eventos (e groupie assumida) Elaine Minhoca Lemos foi quem puxou a fila. Byrne “despertou a macaca de auditório que existe em mim”.

“Só não subi no palco porque, graças a Deus, havia uma equipe de seguranças bem posicionados. Mas ó: boa parte da plateia também não conseguiu ficar sentada”.

Após o show, ela enumerava as virtudes do concerto e os efeitos sobre a plateia: “Elegante? Lógico. Impecável? Certamente. High-tech? Como sempre. Mas o que me pegou foi a forma como ELE continua contagiando. Se o show fosse radioativo, teríamos saído de lá todos fosforescentes”, disse Minhoca.
O bis foi o cover de Janelle Monáe, Hell You Talmbout, a canção de protesto contra a discriminação racial nos Estados Unidos que deu espaço pra Byrne falar do mal de nosso tempo: a estupidez violenta.

Foto: Vinicius Grosbelli/divulgação.

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